"Não
se pode deixar de sonhar. Se não tivermos sonhos, como vamos torná-los
realidade?"
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José
Araújo
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Luísa
era casada há muitos anos, tinha dois filhos, Marisa sua filha de 20 anos e
Joãozinho de apenas quatro anos de idade e eles eram a alegria do casal. Antes
de se casar, ela trabalhava fora e estudava. Quando ela se casou não foi
diferente até a chegada de sua primeira filha, mas quando ela completou seis
anos de idade, ela resolveu por bem para de trabalhar e se dedicar ao lar, ao
marido e sua filha. O tempo passou, sua vida era cuidar dos afazeres domésticos
que tomavam seu dia inteiro e ela dividia seu tempo entre eles e cuidar de
Marisa enquanto ainda era pequena. Seu marido trabalhava muito. O serviço dele
exigia um período maior de sua ausência em casa e Luísa sentia-se por vezes,
mesmo sem perceber, um tanto só e desmotivada, sentindo um vazio enorme dentro
de si, coisa que por mais que ela tentasse, não conseguia descobrir exatamente
o que causava aquela desagradável sensação. A rotina e monotonia em que vivia,
mesmo sem que ela percebesse, a estava deixando transtornada ao longo dos anos
sem ter noção disto. Apesar de cansada, física e emocionalmente, ela jamais se
deixou esmorecer, nem transparecer o que a incomodava tão profundamente a ponto
de não conseguir ter uma boa noite de sono.
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Quando
Marisa tinha 16 anos, chegou Joãozinho. Ele veio para a alegria de todos na
família. Depois que ele nasceu, Luísa teve carga dobrada de responsabilidades e
deveres a cumprir. Ela sempre foi uma mãe e uma esposa exemplar, uma pessoa que
não era capaz de colocar nenhum de seus interesses pessoais em primeiro lugar.
Tudo que ela fazia era em prol unicamente de sua família. Assim, atendendo
somente as necessidades dos outros, esquecendo-se das dela, como não poderia
deixar de acontecer, com o passar dos anos, sua falta de motivação chegou a um
ponto que ela acabou por achar, que viver aquela vida era seu destino, que ser
uma boa mãe, esposa e dona de casa era só que ela podia fazer na vida e nada
mais. Em seus pensamentos, para ela não havia outro futuro, a não ser terminar
seus dias assim. Como ela, há milhões de pessoas neste mundo, homens e
mulheres, que acham que a certa altura, tem que se conformar com a vida que se
leva e deixar de lado os seus sonhos, seus anseios e aspirações. Perdem a noção
do verdadeiro significado da palavra esperança e vão definhando por dentro e
muitas vezes, quem está ao lado destas pessoas, mesmo notando diferenças de
comportamentos nelas, não tem sensibilidade para compreender o que acontece em
seus corações.
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Contudo,
a vida é uma escola e muitas vezes nos surpreendemos com os professores que ela
usa para nos ensinar a viver. Na manhã do dia das mães, Luísa tinha acabado de
dar banho em Joãozinho, que na época estava com apenas quatro anos de idade.
Enquanto ela o enxugava, ele não parava de falar enquanto fazia caretas por ela
estar secando seus cabelos. Como todas as crianças na idade dele, de vez em
quando ele a bombardeava com perguntas e muitas vezes ela era pega de surpresa
pela questão e demorava um pouco a responder. Naquele dia muito especial ele
lhe fez uma pergunta que iria mudar totalmente a sua vida. Em dado momento, ele
segurou a mão dela para que parasse de esfregar a toalha em seus cabelos e
olhando seriamente em seus olhos, ele perguntou o que ela queria ser quando
crescesse. Meio que sem prestar a devida atenção à pergunta que ele tinha
feito, Luísa imaginou que ele poderia estar querendo brincar de algum jogo de
palavras e respondeu sem pensar, que gostaria que quando ela crescesse, pudesse
ser uma mãe. Com um olhar reprovador, Joãozinho balançou a cabeça com um ar sério
e disse que ela não podia.
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Quando
ela perguntou por que não poderia, ele respondeu que era porque ela já era uma
e refez a mesma pergunta de novo. Mãe, o que você quer ser quando crescer? Pela
segunda vez ela respondeu a ele, dizendo que talvez ela pudesse ser uma esposa
e uma boa dona de casa. De novo ele disse que ela não podia ser porque já era
uma. Um tanto desconcertada, ela disse a seu pequeno filho que sendo assim, ela
não tinha a menor idéia do que mais poderia ser. Foi então que ele colocou suas
duas mãozinhas em seus ombros, e olhando bem dentro dos olhos dela, de uma
maneira que nunca tinha feito antes e disse que era simples responder. Que ela
deveria apenas dizer sinceramente, o que ela queria ser quando crescesse,
porque ela poderia ser, qualquer coisa que ela quisesse ser. Com lágrimas nos
olhos, emocionada pela experiência vivida naqueles poucos momentos, ela não
conseguiu responder. Joãozinho já estava seco e vestido quando a conversa
chegou e este ponto e quando viu que a mãe estava demorando muito a responder,
saiu do banheiro sem olhar para trás dizendo que ir ver TV.
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Foi
uma experiência que durou no máximo 5 minutos, mas tocou no mais fundo de seu
ser e, isto aconteceu, por causa da maneira como ele lhe fez a pergunta. Pela
esperança que ela viu claramente em seu olhar de que ela respondesse o que ele
tanto queria ouvir. Parada, ainda com a toalha úmida em suas mãos, ela refletiu
sobre sua vida, sobre a maneira como ela vivia, dedicando-se unicamente ao
marido, aos filhos, à sua casa. Aquela pergunta feita de uma maneira tão
simples e tão natural a fez enxergar que apesar da idade, a qualquer tempo,
qualquer um de nós pode ser o que quiser. Naqueles momentos de reflexão,
causada pela pergunta feita por um garotinho de quatro anos de idade, ela soube
do fundo de seu coração, que apesar de até então ela ter se considerado uma
mulher feliz pela vida que levava, com um marido honesto, que a amava do jeito
dele, tendo filhos lindos, com saúde e que a amavam muito, ela tinha esquecido
dela mesma. Que com a dificuldade da vida, com a luta para manter a casa em
ordem, os filhos bem tratados e educados, ainda fazendo o que podia para que
quando seu marido chegasse cansado do trabalho pudesse descansar em paz, ela se
esqueceu de sonhar, de fazer planos para o futuro.
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Mas
depois do que aconteceu, ela verdadeiramente passou a acreditar que ainda era
tempo para ela ser o que quisesse ser sua vida. Nos pequeninos olhos de seu
filho ela pode ver que seu futuro não estava resumido no que ela fazia, mesmo
sendo com muito amor e carinho. Lá, naquele brilho de olhar, enquanto ele lhe
fez aquela pergunta, ela pode ver que ainda podia sonhar e até mesmo tocar as
estrelas do céu se assim fosse seu desejo. Luísa sentiu dentro de seu coração,
que se ela quisesse, ela poderia mesmo ser ainda, qualquer coisa que desejasse.
Uma cantora, uma atriz, uma expert em medicina nuclear, uma trapezista de
circo. Qualquer coisa que ela quisesse de verdade. Era só querer e correr atrás
da realização de seus sonhos. Finalmente, graças a Joãozinho e sua inocência,
ela descobriu que por detrás de seu olhar carinhoso de mãe e esposa, ainda
havia muitos sonhos e muita coisa para ser na vida, além de ser a mãe, esposa e
dona de casa impecável que sempre foi.
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A
beleza real daqueles momentos mágicos vividos ao lado de seu filho, seu pequeno
professor, foi quando ela percebeu que ele, em toda a sua inocência e
honestidade infantil, poderia ter feito a aquela mesma pergunta, a qualquer
outra pessoa que estivesse com ele. Envolvida pelo encantamento da descoberta
de que mesmo "crescida" ela ainda podia ser o que quisesse na vida,
enquanto lágrimas da mais pura emoção corriam livres de seus olhos, ela disse a
si mesma, que a velha mulher que um dia no futuro ela ainda ia ser, iria ser
muito diferente da mulher que ela tinha sido até então. A outra mulher, a
verdadeira Luísa, que estava apenas escondida por trás do olhar meigo e
carinhoso de uma mãe, esposa e dona de casa, que acima de tudo era um ser
humano que tinha sonhos e anseios de realização pessoal, estava apenas
começando a sair de seu esconderijo naquele momento.
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Ela
pegou a toalha, pendurou no suporte ao lado da pia do banheiro, parou em frente
ao espelho, sorriu e perguntou a si mesma:
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E
então Luísa? O que você quer ser quando crescer?
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Naquele
dia das mães, apesar de ter recebido como sempre os presentes, beijos e abraços
dos filhos, do marido e dos amigos, o maior presente que ela pode receber em
toda a sua vida, foi aquela pergunta que Joãozinho lhe fez.
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Quando
crescemos, muitas vezes nos deixamos levar pelas circunstâncias da vida, de
tudo que nos rodeia, sejam responsabilidades ou obrigações e acabamos por
esquecer que quando éramos pequenos, sempre havia alguém para nos fazer a mesma
pergunta que Joãozinho fez à sua mãe. A grosso modo, ela até nos parece uma
pergunta banal, tão comum, mas na verdade, mesmo esquecida em nossas mentes,
ela esta presente em nosso subconsciente por toda a vida, à espera de que em
algum momento como aquele em que ela viveu com seu filho, a gente acorde para a
realidade de que sempre é tempo de sonhar, de correr atrás da realização de
nossos sonhos, para que possamos alcançar nossa realização pessoal.
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Ser
mãe é uma coisa mais do que especial, é uma dádiva de Deus, mas não se pode
esquecer de que a qualquer tempo na vida, não importa qual seja a nossa idade,
ou quais sejam as nossas responsabilidades, deveres ou obrigações, e até mesmo
sob certas circunstâncias não muito favoráveis, ainda podemos ser na vida, tudo
aquilo que quisermos ser.
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Autor:
José Araújo