"No momento de inspiração, os pensamentos de escritor fluem em sua mente, com a força de uma tempestade tropical, como se fossem os acordes mágicos de um violino, infinitos como a vastidão do oceano, belos como o sorriso de uma criança e, com a mesma voracidade, com que correm as pérolas de um colar que se quebra, e as esparrama pelo chão." Comendador José Araújo
domingo, 26 de abril de 2009
O PATUA...
domingo, 19 de abril de 2009
A ARVORE DO CONHECIMENTO...
sexta-feira, 10 de abril de 2009
O GRANDE CONCURSO
Na zonal sul da cidade, um grande e famoso shopping promoveu um concurso, que daria um carro zero quilometro, à pessoa que fizesse a coisa mais inacreditável. O carro era um automóvel importado de ultimo tipo e a euforia tomou conta dos clientes que freqüentavam o lugar. A chamada a nível de promoção do Shopping, funcionou perfeitamente. Era um concurso diferente dos demais, e todos os dias, na praça de eventos havia sempre uma chamada para o concurso, com a informação ao público sobre candidatos já inscritos. O Shopping ficava lotado de segunda a domingo. As lojas estavam vendendo muito além da média, já que estavam fora de épocas especiais. Os jovens, os de meia idade, e é claro os velhos também, estavam se matando de tanto treinar para o que iriam fazer no dia de sua apresentação. Eram dores de cabeça de tanto pensar. Músculos e nervos distendidos causando desconforto em todo lugar. O exagero chegou a um ponto, que quatro pessoas morreram de tanto comer e duas foram parar na UTI de tanto beber, só para provar que poderiam conseguir vencer, fazendo a coisa mais inacreditável, mas certamente, este não era o caminho para ganhar o primeiro lugar.
No dia marcado para as apresentações na praça de eventos do Shopping Center, cada um tinha que mostrar que podia mesmo fazer a coisa mais inacreditável que já se tinha visto no país. Pais orgulhosos e esperançosos, inscreveram seus bebês até de dois anos de idade e outros, inscreveram seus avós e bisavós, pois tinham certeza de que eles poderiam vencer o concurso. Não se falava em mais nada na cidade, a não ser, o grande concurso. Entre os jovens e os velhos, entre homens e mulheres, o assunto era um só. O concurso virou coqueluche e contaminou a todos os cidadãos. Foi então que chegou a o grande dia.
A praça de eventos estava lotada. Havia até torcidas uniformizadas e o barulho... era infernal! Um a um, os candidatos foram se apresentando perante a comissão julgadora e a expectativa pela próxima apresentação deixava a todos inquietos. O que viria depois? Apareceu de tudo na concorrência pelo primeiro lugar. Foram canções cantadas de bocas fechadas, dançarinos que usavam as costas ao invés dos pés para dançar, dentre muitas e muitas coisas que não se vêem todos os dias, até que enfim, chegou a vez do penúltimo candidato. Ele era um escultor. Quando o alto falante anunciou o candidato, o riso foi geral. Um escultor? O que poderia um artista como ele fazer de inacreditável?
As esculturas são formas e os resultados dos trabalhos dos escultores geralmente são muito bons, mas de inacreditável, o que ele poderia fazer? Anunciado, ele entrou no grande palco arrastando algo sobre um carrinho, e fosse o que fosse, estava coberto por um enorme tecido preto. O silêncio foi total. A platéia ansiosa, não via a hora de ver o que ele havia feito para concorrer, nem ao menos respirava. O jovem escultor disse algumas palavras ao publico e após com um movimento súbito e inesperado, ele puxou a cobertura que escondia sua escultura. A exclamação foi geral! OOOOHHHHHHHHHH!!!
Na frente de todo mundo, estava a mais bela escultura que alguém já tinha visto. Era a escultura de um corpo de mulher. Seus traços faciais eram tão perfeitos. Seus olhos tão vívidos. Sua boca tão linda. Um corpo escultural, vestindo uma túnica como nos tempos dos Deuses do Olimpo. A perfeição era tão grande, que todos silenciosamente esperavam que ela se movimentasse e que a qualquer momento, falasse também. Não houve um dos jurados que não concordasse que aquele era o melhor candidato. Ele era mesmo um grande artista. Um daqueles que aparecem de séculos em séculos, e para a felicidade de todos, ele estava ali, bem na frente de seus olhos. Ele era de carne e osso e tinha realmente feito a coisa mais inacreditável já vista.
Sua escultura parecia viva, e mais, ela parecia que com sua beleza tinha enfeitiçado a todos! Ele tinha que ser o vencedor. Contudo, alguém lembrou ao júri que ainda havia um candidato que não se apresentou. Ele era o ultimo na lista e tinha direito a fazer sua apresentação, e quem sabe, até vencer o concurso, se fosse o melhor. Justiça tinha que ser feita. Mesmo contrariados, todos foram unânimes. Ele iria se apresentar. A platéia inconformada, começou a vaiar. Em meio a um barulho ensurdecedor, com um martelo enorme em suas mãos, ele entrou no palco. No mesmo instante em que ele chegou ao centro do palco, as vaias pararam de soar. O silencio se fez.
Os jurados, a comissão organizadora do evento e a platéia, estavam sem piscar. O que um cara com um martelo enorme nas mãos poderia fazer de mais inacreditável, do que aquela escultura mágica que encantou todo mundo? O candidato disse a todos que agora sim eles iriam ver alguém fazer a coisa mais inacreditável que já tinham visto, e que isto, eles poderiam escrever, porque era o que ia acontecer. Sem dizer mais uma palavra, ele dirigiu-se para onde estava a bela escultura feita pelo seu concorrente. Ele parou em frente a ela e admirou cada detalhe. Depois virou-se para a platéia que ainda estava muda, dizendo que ele mesmo, nunca tinha visto algo tão inacreditável como aquele trabalho, mas que agora sim, todos iriam ver algo verdadeiramente inacreditável.
Então, ele empunhou seu enorme martelo de ferro e com golpes firmes e decididos, CRASH! TUD! TUD! BAM! CRACK! CABRAM! TUNK! CRÁS! CRECK!
Ele destruiu a bela e magnífica escultura de seu concorrente que encantou a todos. Diante dos olhos arregalados dos jurados, da comissão organizadora e da platéia, ele não se cansou de dar marteladas naquela magnífica obra de arte, até que de suas formas perfeitas, não houvesse mais nada. Atônitos, ainda em silêncio, diante do que tinham que admitir, era inacreditável, todos ouviram quando ele disse com voz firme e decisiva, que tinha provado que ele poderia fazer melhor que todos os outros candidatos. Que tinha superado a todos com o que tinha acabado de fazer, e sobre tudo, o escultor da obra de arte que ele destruiu. Naquele instante, ele se proclamou o vencedor do concurso, porque ele tinha feito a coisa mais inacreditável já vista. Ele havia destruído uma verdadeira obra de arte. Revoltados com a atitude dele, a platéia inteira, num tremendo estrondo, como um vulcão quando entra em erupção, vaiou a toda voz. UUUHHHHH!!!! FOOORAAAAA!
Contudo, os juizes após ponderar muito sobre a decisão, o proclamaram como o grande vencedor, deixando a todos sem saber o que dizer. Eles o fizeram, porque perante a lei, destruir uma obra de arte, é o crime mais incrível e a coisa mais inacreditável que alguém possa fazer. A platéia inteira, mesmo não concordando com a decisão, teve que aceitar que ele fosse o vencedor e grande ganhador do concurso, recebendo as chaves do seu carro importado e zero quilometro, enquanto o escultor chorava tristemente sobre o que restou de sua obra de arte, porque Lei é Lei e ela tem que ser obedecida, em qualquer situação.
Mesmo que para isto, seja preciso que se faça, a coisa mais inacreditável que alguém possa fazer.
Autor: José Araújo
domingo, 5 de abril de 2009
UM DIA TALVEZ, ELES POSSAM VIR...
Quem sabe, daqui há dois mil anos eles virão. Talvez, mas ao que tudo indica, é o que vai acontecer, eles possam chegar em suas naves prateadas, que após entrar na atmosfera de nosso planeta, irão atravessar a massa de gases que terá substituído o oxigênio impuro que hoje respiramos, voando sobre o que tiver restado dos oceanos, dos rios e das florestas. Elas estarão protegidas por poderosos campos de força que impedirão que as devastadoras tempestades magnéticas lhes façam algum mal. Jovens humanos vindos do planeta Gaia, a irmã gêmea da Terra do outro lado do Universo, virão conhecer o que sobrou dela depois que interferimos na natureza. Terra. O berço de seus ancestrais. Curiosos, eles virão visitar monumentos anciões em ruínas, exatamente como fazemos hoje com lugares como as pirâmides do Egito, a cidade perdida de Machu-Pichu, os templos dos Maias e dos Incas e as planícies de Nazca, com seus desenhos tão grandes e detalhados, que só podem ser vistos do alto, e que hoje, nos despertam tanta curiosidade e fascínio, dos quais, nem mais vestígios existirão. Em dois mil anos eles poderão vir. Quando aqui chegarem, poderão encontrar apenas enormes sulcos no solo, onde um dia foram grandes rios como o Amazonas, o Tâmisa e o Nilo, dentre muitos outros. Em lugares onde hoje existem paraísos tropicais, encontrarão paisagens cobertas pelo manto branco da neve, e a Aurora Boreal, poderá estar brilhando num céu avermelhado, sobre as terras do Brasil. Onde antes haviam muitas fontes verdejantes, em meio a uma natureza esplendorosa, poderão encontrar ao mesmo tempo, deserto e geleiras, dunas de areias, grandes muralhas de gelo e rios de lava incandecente coexistindo lado a lado, como ainda não chegamos a ver. Não encontrarão nada parecido com aquilo que aprenderam nos livros virtuais sobre o que foi planeta azul. Geração após geração, a raça humana no planeta Terra terá chegado ao fim dos tempos de sua existência e terá se tornado em pó. Os sábios de Gaia, ensinarão aos jovens humanos de lá, que os humanos da Terra, do pó vieram e ao pó retornaram, pelas próprias mãos. Quando partirem de seu planeta, os grupos de jovens da nova geração de humanos nascidos em Gaia gritarão excitados: Vamos para o planeta Terra! O berço de nossos ancestrais! Lugar de muitas memórias e imaginação! Vamos partir! Então, suas naves virão. Todas elas repletas de novos humanos, loucos para chegar aqui. Ansiosos para conhecer o lugar que deu origem à sua raça. Com a velocidade da luz, eles logo chegarão. Sensores eletrônicos de presença instalados no fundo dos oceanos por mãos humanas do passado, os que ainda tiverem resistido ao caos provocado por nós, indicarão em seus resgistros, o tamanho do grupo de naves que estarão chegando. Ao entrar na atmosfera, que então será composta de gases que hoje nem imaginamos poder existir, terão apenas noção das proporções dos continentes pela sua silhueta escura, destacada na imagem avermelhada do planeta que dantes era azul e que graças aos humanos, se tornou avermelhado. Guias turísticos e mestres em história, mostrarão a eles onde ficavam grandes países, berços de gigantescas nações e suas grandes capitais, assim como as principais cidades e monumentos de cada lugar. Quando as naves estiverem sobrevoando onde um dia foi um país chamado Brasil, os mestres lhes dirão que lá embaixo, onde estarão vendo apenas vulcões em erupção e fogo saindo do solo por toda parte, um dia foi um país tropical. Um lugar paradisíaco, onde nasceram grandes artistas do passado da humanidade. Alguns conhecidos por nós, outros ainda por nascer. Uma nação onde Caetano Veloso cantava a Tropicália para a alegria da juventude Hippie brasileira. Onde Cecília Meireles escrevia e declamava os mais belos versos e poesias do romanceiro da inconfidência. Lugar onde outro grande artista, Dorival Caymmi, mostrava ao mundo inteiro todo seu talento de compositor para orgulho da pátria amada. Onde Gal Costa e Maria Bethânia, cantaram e encantaram corações com suas vozes melodiosas. Um país de tantos talentos, de tantas artes, de tantas glórias. O Brasil das obras de Tarsila do Amaral, de Di Cavalcanti e Cândido Portinari. Berço dos grandes mestres da literatura nacional, como Graciliano Ramos; Guimarães Rosa; José de Alencar; Lima Barreto; Machado de Assis; Mário de Andrade; Luiz Érico Veríssimo; João Ubaldo Ribeiro; José Lins do Rego, Oswaldo de Andrade e outros que ainda vão surgir. Quanto desperdício! (Eles dirão) Eles também se perguntarão, porque uma raça tão inteligente, tão sensível, tão cheia de talentos e virtudes, mãe de tantos gênios da arte e da literatura teria cometido um crime tão hediondo assim? Por que tanto ódio de si mesmos? Com uma mente aberta, usando seus 100% de sua capacidade de raciocínio, eles não encontrarão explicação lógica para crime que teremos cometido. Atônitos, ao ver nas telas de suas naves o registros digitais das imagens do que antes foi o planeta Terra, eles ouvirão os relatos de seus mestres e guias silenciosamente, com um aperto no coração. Enquanto isto, suas naves irão pairar sobre vários locais históricos de onde foi um dia um país maravilhoso, sem igual. Em muitos lugares estratégicos, como no topo do Pão de Açúcar, ou o que sobrar dele após tanta destruição, serão construídos hotéis para acomodar os turistas vindos de Gaia em busca de conhecimento. Neles, haverá sem exceção, atmosfera artificial para maior conforto dos viajantes. Poder respirar sem ser artificialmente, será definitivamente impossível num planeta como a Terra do futuro. Grande parte dos turistas, pagarão enormes quantias em dinheiro para se hospedar em hotéis construídos em pontos especiais, por apenas uma noite, mas para poder dizer aos seus quando retornarem, que estiveram aqui. Gastarão o que for necessário para poder viver momentos únicos e aterrorizantes de encontro com aquilo que um dia, foi o lar de seus ancestrais. Turismo cultural na Terra, daqui a dois mil anos, poderá ser considerado matéria obrigatória no curriculum de cada ser humano que nascer em Gaia. Em suas naves, durante as viagens de um lugar para o outro no planeta Terra, que um dia será chamado de Planeta Vermelho, muitos passageiros adormecerão porque fugir da realidade através dos sonhos, poderá ser sua única saída para que não fiquem extremamente traumatizados, com tudo que virem de ruim por aqui. Por entre os gazes nos céus, sobre o que restar dos oceanos, voando sobre grandes geleiras onde um dia foi o sertão brasileiro, eles poderão vir, e eles virão, se os humanos do planeta que hoje é azul não pararem para refletir sobre as conseqüências de seus atos, contra a natureza, contra o meio ambiente, e pior, contra eles mesmos. Quando estiverem satisfeitos com o aprendizado que tiveram visitando o continente sul americano, seguirão viagem rumo a outras paragens. Seu destino, o lugar onde foi o Pólo norte do planeta. Pelas imagens que viram nos livros digitais, o solo de lá antes era coberto pelo gelo e ficava no extremo norte do planeta, mas as imagens reais que irão encher seus olhos de terror, serão as enormes erupções de Geisers, que se lançarão em jatos poderosos de líquidos ácidos e com uma temperatura tão alta, que se atingissem suas naves sem que estivessem protegidas por seus campos de força, seria o seu fim. Pouco a pouco, lugar por lugar, os novos humanos vindos de Gaia conhecerão detalhes de cada país que um dia existiu na Terra. Algumas naves já mais distantes que as outras, ao sobrevoar o que antes foi uma cidade que se chamava Paris, proporcionarão aos seus tripulantes, a oportunidade de ver surgir do lodo fedorento de enxofre, apenas a ponta de uma imensa estrutura metálica que em sua época de glória, era chamada pelos homens de Torre Eiffel. Um dia, certamente eles virão e se permitirmos que este dia chegue, teremos cometido suicídio, teremos procurado a nossa morte com as próprias mãos. Teremos usado a inteligência que Deus nos deu com a melhor das intenções, infelizmente, para este fim. Teremos matado aos poucos, desde os primórdios dos tempos, a nós mesmos e a todos os seres vivos que Deus criou. O planeta vermelho do futuro, que hoje conhecemos como azul, terá resistido a tantas barbaridades, a tantas atrocidades, mas estará moribundo, e deserto, porque não mais estaremos aqui. Ele estara pedindo clemência para que acabem com seu sofrimento, com sua agonia. A Terra estará gritando de dor, e seu pranto, será ouvido através da imensidão do Universo sem fim. Ela estará implorando ao todo poderoso, ao nosso criador, que faça com que chegue para ela, assim como chegou para nós humanos, o dia do juízo final.
Daqui a dois mil anos, ou até muito menos, um dia talvez, eles possam vir... Será que ainda há tempo para mudar o rumo que as coisas estão tomando? Vamos deixar que o pior aconteça por causa de nossas atitudes impensadas? Responda sinceramente, mas não a mim, o escritor e autor deste conto, mas a sí mesmo, contudo, pense bem antes de responder... De minha parte, do mais fundo de meu coração... Eu espero que não... Autor: José Araújo