Páginas

sábado, 19 de julho de 2008

O ESCRITOR DE EMOÇÕES...

Há muitos anos atrás, ele recebeu o diagnóstico de que tinha uma doença incurável em seu coração e em conseqüência, aposentou-se por incapacidade de continuar trabalhando, passava algum tempo bem, mas logo tinha que ser internado novamente. Por toda sua vida profissional, ele sempre cuidou mais dos afazeres no trabalho do que si mesmo, não era plenamente realizado no que fazia para ganhar a vida, mas fazia algo que amava de coração, ele escrevia, sim, ele escrevia textos que falavam sobre os sentimentos humanos e o fazia com uma propriedade que tocava os corações daqueles que tinha a chance de ler seus trabalhos.Seu sonho era poder ter tempo para escrever um livro, para poder colocar nele, todas as experiências de vida e seus sentimentos. Toda vez que ele tocava no assunto, sua mulher dizia que ele era um sonhador, que com a pouca instrução que ele tinha, nem mesmo deveria tentar escrever, pois seria uma verdadeira vergonha, com tantos erros de ortografia que ele cometia. Este comportamento dela com relação ao seu sonho o feria profundamente, não pelo fato dela dizer que ele não tinha instrução, mas pelo fato dela não compreender o que aquilo significava para ele e a dor em seu coração e a dor que sentia era tão profunda que talvez fosse até maior do que aquelas que ele sentia fisicamente quando tinhas suas crises e ia para o hospital. Impedido de escrever em casa pela posição irrevogável de sua esposa ele saia com um caderno de anotações embaixo do braço e ia para a praça onde ficava horas a fio escrevendo, criando suas estórias e nelas, ele retratava sua alma pura, seu amor pela humanidade e sua vontade de continuar a viver a despeito de saber que não tinha muito tempo de vida. Num certo dia uma enfermeira que passava pelo local não pode deixar de ver aquele senhor de cabelos grisalhos, bem vestido, sentado num banco de praça e escrevendo algo que parecia leva-lo para longe daquele lugar, tanto que nem percebeu quando ela sentou se ao seu lado e começou a ler o que ele estava escrevendo. O texto era uma estória que ele estava escrevendo sobre um rapaz que havia se acidentado e estava numa cadeira de rodas e no texto só havia palavras de fé e incentivo a crer no poder de Deus e na força de vontade de se curar, o que a fez apaixonar se pelas obras do escritor sem nem mesmo conhece-lo. A enfermeira trabalhava num grande hospital, exatamente numa unidade de reabilitação para pessoas, que de alguma forma haviam se tornado invalidas, total ou parcialmente e ela sabia o quanto era importante para os pacientes acreditarem em sua cura. Ela continuou ao seu lado, lendo o que ele estava escrevendo e ele continuava a não perceber sua presença, aquele homem claramente amava o que fazia e ela sabia que este dom de dar amor ao próximo não era muito comum nos dias de hoje e então ela lhe chamou a atenção para que ele olhasse para ela.

O bom homem virou-se lentamente e em seu semblante havia uma paz, uma luz que tocou profundamente o coração da jovem que não pode controlar suas lágrimas, que rolaram livremente por sua face e ele, ao ver aquela linda jovem chorando, com um sorriso bondoso nos lábios tirou um lenço do bolso e enxugou lhe a face molhada pelo pranto sentido. Ele continuou em silencio e ela após se recuperar, disse a ele que gostaria de lhe fazer um convite para fazer um trabalho voluntário no hospital em que ela trabalhava, em prol de pessoas internadas que estavam precisando de incentivo para lutar pela vida. Assim foi, ele aceitou e conheceu muitos pacientes e parentes dos mesmos e com suas palavras, trouxe muita luz, muita paz a tantos corações debilitados pela carência de afeto, de atenção, de esperanças de sair do abismo onde haviam caído, mas o grupo medido responsável, achou que ele seria de muito mais utilidade no setor infantil e lá foi ele, pronto para doar se uma vez mais na vida, mas sempre de corpo e alma, porem desta vez, a doação seria muito mais de sua alma e coração. Ele confidenciava aos pais dos pequenos pacientes que não tinham mais chance de viver qual era sua verdadeira situação de saúde e lhes dizia que talvez ele fosse para o céu primeiro que seus filhos e perguntava a eles se queriam que ele levasse algum recado especial, para ser dado aos pequenos quando lá chegassem e prometia que ele mesmo, cuidaria lá no céu de cada um deles, com todo carinho e amor. Muitos pais achavam aquilo um absurdo e não lhe davam atenção, mas a grande maioria agradecia profundamente com muita emoção aquele ato de bondade de um homem que nem mesmo tinha chance de continuar vivendo por muito tempo. No meio das crianças havia uma menina que tinha contraído uma estranha doença que a deixou paralisada do pescoço para baixo e ela era uma criança muito triste, não sorria nunca e nem mesmo respondia ao que seus pais e as outras pessoas lhe diziam. Ele ficou comovido como nunca de ver aquela linda criança, prontificou se a tentar a ajuda-la e a visitava todos os dias, lia para ela as estórias de fé e esperança que ele havia escrito e ao final de dois dias, finalmente veio uma reação, uma lágrima rolou em sua pequenina face e lentamente ele olhou em seus olhos e esboçou um sorriso ainda cheio de dor.

Como ela não tinha movimentos abaixo do pescoço ele começou e lavar para pinceis, tintas e papeis e a convenceu tentar pintar com a boca, coisa que ainda relutante, ela fez e para alegria dele e dela, o resultado não poderia ter sido melhor, pois logo ela estava pintando coisas lindas com a boca que deixavam todos atônitos pela beleza dos detalhes dos desenhos que ela fazia. Não passou muito tempo e os médicos deram alta para a garotinha porque afirmavam que não poderia fazer mais nada por ela e sua invalidez seria para o resto da vida. O coração daquele homem que havia se apegado à menina com todas as forças já não mais poderia agüentar tanta emoção e no dia da despedida eles choraram juntos e abraçados coisa que fez muita gente ao redor se emocionar também, sem conseguir esconder o pranto. Ele deu a ela o rascunho de muitas de suas estórias e uma delas era a do rapaz que havia ficado inválido e se recuperou, justamente no intuito de dar a ela esperanças para lutar. Passado muito quase um ano ele ainda lutava para continuar vivendo e visitava o hospital quase todos os dias e num deles, ao descer do táxi na porta da escola, uma garotinha linda saiu correndo ao seu encontro e lhe deu um abraço longo e apertado enquanto soluçava em seus braços e ele ainda sem saber o que estava acontecendo, correspondeu ao abraço como faria com qualquer pessoa e ao olhar de perto aquele rostinho que ele tanto conhecia, suas lágrimas rolaram e seu coração bateu mais acelerado do que nunca. Era ela, a garotinha paralisada do pescoço para baixo e ela disse a ele com um sorriso que para ele não tinha preço, que graças a ele e às suas estórias, ela teve forças para lutar e acreditar em sua cura, ela voltou a acreditar em Deus e em sua luz e por isto ficou curada para sempre.

Muitas pessoas carregam dentro de si a luz divina, porém alguns de nós não conseguem ver que ela esta lá, assim como a esposa do escritor de emoções, que nunca o apoiou em seus sonhos, sempre fazendo com suas críticas, um enorme estrago num coração velho e cansado, mas que mesmo assim, não desistiu de viver, não desistiu do amor ao próximo, muito menos, da fé em Deus, acima de tudo.

Autor: José Araújo

3 comentários:

Margarita Parada disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sueli disse...

"O Escritor de Emoções"...estória belíssima de pura emoção e sensibilidade!
Só uma curiosidade:Tem algo a ver com tua História?
Abraços

Diana Fonteneles disse...

Sabe o q mais me chama atenção em seus textos? a facilidade que vc tem de me fazer emocionar. Linda estória, adorei! Elas p mim são como um alimento, me revigoram, me fazem acreditar ainda mais que vc é só um instrumento nas mãos de Deus para levar essas belas mensagens às pessoas que precisam de alguma luz. Vc, José, é como um vazo nas mãos do oleiro... continue a deixar-se moldar por Ele, tenho certeza que só quem tem a ganhar é vc. Te amo de coração. Beijos e abraços de sua amiga de sempre.