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domingo, 27 de janeiro de 2008

A ROCA, O FUSO E AS DROGAS...



Quem lê meus trabalhos, sabe que de vez em quando eu gosto de usar estórias infantis para ilustrar minhas idéias, meus pensamentos, para criar minhas estórias, minhas crônicas, para reflexão, não porque meus pensamentos sejam infantis, mas porque elas nos mostram que a vida real tem tudo a ver com seus enredos criados pelos grandes mestres da literatura e elas, de uma forma brilhante, nos colocam frente a frente desde a mais tenra infância, com os dois lados de tudo que nos rodeiam na vida, principalmente, sobre o bem e o mal.


O mundo esta sob o domínio das drogas, fala se muito sobre elas, sofre-se muito por causa delas, não só nos âmbitos físicos e sentimentais, mas num contexto global, onde a sociedade marginaliza aqueles que foram levados ao vício e que chegaram ao fundo do poço e muitas vezes por causa disto são levados à morte por suicídio, por assassinato cometidos pelos chefes do tráfico, que nem ao menos se importam com o ser humano que colocaram no mundo da dependência química, apenas não aceitam dividas não pagas pelos “clientes”, além de que muitas vezes o próprio dependente é levado ao crime, tirando as vidas de pessoas que os rodeiam, de inocentes que nada devem, mas a ira, num momento de “viagem” através das drogas acaba por destruir vidas, pela morte de inocentes e pela prisão do dependente químico pelos crimes cometidos.


Todos nós conhecemos a estória da Bela Adormecida não é mesmo?


Então vamos relembrar alguns trechos da vida da princesa Aurora...


Lembram se de que a Bruxa Malvada não foi convidada para o batizado da pequena Aurora, por sua malvadez, por sua feiúra, porque os pais de Aurora achavam que a maldade e a feiúra não poderiam fazer parte da festa e então deixaram a Bruxa Malvada fora da lista de convidados?


Porém estes atributos, também fazem parte de nossas vidas, das vidas de todo mundo neste planeta e a Bruxa compareceu ao batizado mesmo sem ser convidada e numa vingança terrível pela discriminação e afronta que recebeu, ela lançou um feitiço maligno sobre a princesa Aurora.


Se analisarmos com a mente aberta, chegaremos à conclusão de que teria sido melhor ter incluído a Bruxa Malvada na lista de convidados, tratando a como qualquer outro membro da corte.


Compreendemos que teria sido muito melhor tê-la como hóspede do que como uma inimiga vingativa e imprevisível em suas atitudes de revanche.


Como todos sabemos a boa intenção dos pais da Bela Adormecida foi longe demais em suas conseqüências...


O rei ouviu em alto e bom tom através da voz da Bruxa que Aurora, sua princesinha, sua primeira e única filha, quando completasse seus 15 anos, iria ferir seu dedo no fuso de uma roca de fiar e adormeceria para sempre.


Levado pelo desespero pela idéia de perder Aurora para sempre, ele mandou banir de seu reino todas as rocas de fiar e devemos lembrar de que nenhum pai ou mãe, por mais poderoso que seja, pode livrar definitivamente seus filhos de serem machucados ou de afasta-los de todos os “sujeitos” ou objetos que possam feri-los na vida.

Como sabemos, havia ficado apenas uma roca esquecida, no alto de uma torre onde vivia uma velha fiandeira, só isolada de todo o resto da corte.


Certo dia, a princesa Aurora chegou à torre por acaso em um de seus passeios pelo reino, não havia mais ninguém lá, a velha fiandeira não mais habitava o lugar e quando a princesa viu a roca, um objeto que nunca havia visto na vida e como todo ser humano, a curiosidade foi maior do que o receio, ela tocou a ponta do fuso, feriu seu dedo e quanto ao resto, nos todos já sabemos, não é necessário que eu vá mais adiante na estória da Bela Adormecida.


Como pessoas evoluídas, inteligentes que somos, é claro que achamos hoje que seria muito mais correto se o Rei ou a Rainha, tivessem alertado Aurora, desde sua mais tenra idade, sobre o perigo que representava para ela aquele objeto, pois pior ainda, ela nem mesmo conhecia tal objeto, foi lhe negado o conhecimento da existência dele, o que a levou à curiosidade de chegar mais perto, de toca-lo, os sofrimentos que se seguiram disto, foram apenas conseqüências.


Infelizmente, existem ainda nos dias de hoje uma infinita quantidade de pais, mães e responsáveis pela educação das crianças, que se comportam exatamente como o pai de Aurora e á ai que quero chegar...


As drogas existem, estão ai quer a gente queira quer não, o que temos a fazer é encarar o fato de frente, temos que conviver com esta realidade, mas não significa que temos que aceita-la como normal, como um fato do qual não podemos nos livrar, é preciso lidar com o assunto usando nossa capacidade de raciocínio, de saber discernir o que é bom ou ruim numa situação onde se vê cara a cara com o problema.

A sociedade em geral é preconceituosa, na verdade é maldosa a ponto que banir de seu meio, aqueles que se vêem envolvidos pela dependência química, ou seja, as pessoas acham erroneamente que estarão mais seguras se os enviarem para longe, se eles desaparecerem de suas vistas, como se fossem uma peste ou uma praga que não tem cura, como cães raivosos que precisam ser sacrificados em beneficio dos outros.


Se lembrarmos de que tudo teria sido diferente, se o Rei tivesse convidado a Bruxa para festa, se ele e a rainha tivessem com isto procurado aprender a lidar com o problema dando uma chance à Bruxa de se recuperar em meio aos súditos do reino, certamente chegaremos à conclusão de que renegar um filho, um parente, um amigo que se envolveu no mundo das drogas não é a solução, é aumentar ainda mais o problema, pois aqueles que ficam dependentes delas, são pessoas como todos nós, que tem sentimentos, que sofrem as conseqüências do vício, da dependência, que muitas vezes precisam falar, precisam ser ouvidos, precisam ser compreendidos para que possam se recuperar, seus corações gritam por socorro, mas na maioria das vezes não são ouvidos.


Vamos comparar a maldade da Bruxa como uma forma de dependência, uma forma de represália pelo preconceito dos pais de Aurora e de todo o reino contra ela, não é difícil imaginar uma pessoa que se tornou dependente química, agindo com maldade para de alguma forma se vingar daqueles que a renegou, que quiseram que ela fosse para bem longe, somente para se livrar do problema, sem ao menos pensar por um momento que esta pessoa esta infeliz, tanto ou mais do que quem a rejeita e que tudo que ela precisa é de uma mão amiga, de um abraço carinhoso acompanhado de palavras de apoio, de compreensão.


É raro encontrarmos pessoas que já viveram o problema, elas mesmas sendo dependentes ou pessoas da família, que podem dizer que tiveram todo o apoio das pessoas que amam e que diziam ama-las, o que ocorre é ao contrário, o medo de se envolver no assunto, do que a sociedade vai dizer delas, de seu comportamento estar próximo ao dependente químico.


Felizmente, existem aqueles que como eu, vêem as estórias infantis como uma aprendizado, que nos acompanha desde a infância e enxergam os fatos como eles são e muitas vezes por esta postura, estórias como a da Bela Adormecida que se inicia com rejeição e preconceito, acabam bem, mesmo sem a presença do príncipe encantado para nos despertar do sono profundo em que entramos e que era povoado de pesadelos.


Citei a estória da Bela Adormecida porque nela enxerguei um duplo sentido e aqueles que compreenderam o que eu quis dizer, certamente dão o apoio e suporte necessário àqueles que por acidente, por indução ou curiosidade, tocaram a ponta do “fuso” das drogas e entraram num sono profundo, mas ao contrario da Bela Adormecida, em lugar de sonhar, viveram ou vivem num eterno pesadelo, precisando desesperadamente de “alguém” para acorda-los para vida.


Conheço casos de dependentes químicos se chagaram realmente ao fundo do poço de onde nunca mais saíram porque foram levados à morte e na maioria dos casos, certamente lhes faltou o carinho e a compreensão por parte daqueles que os rodeavam, mas por outro lado, conheço casos de pessoas que com a ajuda daqueles que os amam conseguiram lentamente sair de lá, conseguiram se livrar do pior e vivem hoje em harmonia consigo mesmo, graças à capacidade de compreensão e o amor daqueles que os ajudaram e o mais importante, pela vontade de se livrar da morte em vida que significa ser dependente químico.


Eles saíram do buraco, porque no fundo de seus corações havia um Deus, grande e poderoso, que os fez enxergar a importância e o valor do apoio que receberam daqueles que os amam, eles antes não eram nada perante a sociedade, hoje são heróis, porque esta é uma luta muito difícil, mas além de tudo, eles provaram que com a luz de Deus que lhes foi enviada através de seus entes queridos, tudo é possível, que contra o amor, não existe o mal, aprenderam a amar vida, seus parentes e amigos, aprenderam a enxergar dentro de si mesmos, não somente a ver o que está a sua volta, aprenderam que são parte do mundo, aprenderam que para serem livres do mal é preciso querer, sim, porque ele existe e precisamos saber lidar com ele da melhor maneira possível, porque ele existe em todo lugar, não pode ser “banido” como as Rocas da estória, mas podemos evita-lo conhecendo seus princípios.


Aprenderam que é preciso ter um motivo para querer ser livres e este motivo, sem duvida nenhuma é o amor...


Autor: Jose Araujo

Dedico este texto a todos aqueles que em algum momento de suas vidas, se viram envolvidos com a dependência química e que heroicamente aprenderam que nada neste mundo ou além dele, é mais valioso que a vida, que a fé em Deus e principalmente que com amor tudo é possível, é só querer...